As nossas rotinas atarefadas exigem que os animais possam ter de ficar algumas horas sozinhos em casa.
No entanto, não lhes chamamos animais de companhia apenas por nos fazerem companhia: eles também necessitam da nossa presença, atenção e afeto.
Antes de adotar um animal, as pessoas não costumam dar muita importância a este assunto. Afinal, tantos cães e gatos ficam em casa sozinhos quando os seus donos vão trabalhar e
não morrem por isso.
Mas quando começam a surgir coisas estragadas em casa, objetos partidos ou necessidades espalhadas pelo chão, o caso muda de figura.
Punir o animal só vai agravar a situação, acrescentar mais stress a todo o stress que o animal já tem acumulado de quando fica sozinho:
Eles têm um tipo de memória diferente. Não são bons em raciocínio. Eles não conseguem olhar para trás e perceber que o que eles fizeram há uma hora atrás é a razão do seu dono estar zangado com eles.
— John Bradshaw, diretor do Instituto de Antrozoologia da Universidade de Bristol
O principal problema com as nossas saídas de casa é que animal não sabe se a nossa ausência é temporária. Fechar a porta de casa e sair para o trabalho é uma experiência normal para nós, mas pode ser muito stressante para os animais que ficam
para trás.
Cães
Os cães são animais extremamente sociáveis e com uma notável ligação ao ser humano, pelo que não se sentem confortáveis quando deixados sozinhos.
A solidão e o stress podem mesmo desencadear uma crise em que os cães ficam “traumatizados como crianças abandonadas”, tal como referiu investigador John Bradshaw, diretor do Instituto de Antrozoologia da Universidade de Bristol que estuda o comportamento de animais de estimação há 25 anos.
Esse stress e ansiedade pode desencadear uma série de comportamentos que naturalmente não desejamos que eles tenham, tais como ladrar incessantemente (possíveis problemas com vizinhança),necessidade fora do lugar ideal, roer móveis, revirar lixo, lamberem-se incessantemente (provocando feridas), entre outros.
Provavelmente o seu cão nunca vai apreciar a ideia de ficar sozinho, no entanto, com algumas dicas é possível reduzir significativamente o problema.
Dicas para deixar o seu cão tranquilo em casa
- Habitue o cão aos poucos: Se o seu cão ainda não está habituado a ficar sozinho, é uma boa ideia começar a habituá-lo aos poucos. Experimente sair de casa por 5 minutos, voltar, sair por mais 15 ou 30 minutos, voltar de novo. Este pequeno treino ajuda o cão a compreender que você sai, mas volta, e com isso reduzir a ansiedade. Experimente também promover alguns períodos de silêncio e distanciamento durante o dia, para o cão se habituar e perceber que não há nenhum mal nisso.
- Não deixe o seu cão associar isolamento a punição: Uma vez que o seu cão ficará sozinho durante a sua ausência, ele não deve associar esse isolamento a algo mau ou punitivo. Pelo contrário. Ao associar o isolamento a coisas boas, ou pelo menos a algo natural, ficará mais tranquilo.
- Um bom passeio pela manhã: Um bom passeio com algum exercício pela manhã pode ajudar bastante. A energia gasta numa caminhada ou numa corrida já não será gasta em casa durante a sua ausência, pelo que ficará mais calmo. Claro que a quantidade de exercício deve ser ponderada caso a caso: o seu cão ainda é jovem ou nem por isso? Tem algum problema de saúde? Está muito calor? Tudo isto deverá ser tido em conta e em caso de dúvida o seu veterinário pode ajudar.
- Desvalorize a despedida e o regresso: Não diga adeus quando sai nem faça (ou deixe fazer) uma grande festa quando regressa. A separação e o reencontro devem ser hábitos normais, não um acontecimento. Se der muita atenção imediatamente antes de sair, o cão pode associar essa atenção a algo mau (vai ficar sozinho). De igual modo, se der muita atenção assim que chega, vai aumentar a ansiedade do cão da próxima vez que sair, ansioso pelo seu regresso e pela atenção redobrada que recebe.
- Deixe coisas para o seu cão fazer: É comum ler relatos de donos que chegaram a casa e viram algum objeto destruído, mas na verdade não deixaram nenhum brinquedo à disposição do animal para se poder distrair. Coloque alguns brinquedos pela casa antes de sair (bolas, bonecos, ossos próprios para brincar), para que o cão tenha algo que fazer durante as horas que estiver sozinho. Pode inclusive subir a parada: esconda alguns brinquedos em sítios acessíveis para que o cão os possa descobrir, mas que o obrigue a procurar primeiro, estimulando-o física e mentalmente.
- Música, Maestro!: Não precisa de colocar a 9ª sinfonia de Beethoven a tocar pela casa, mas uma simples televisão ligada, com o leve barulho de fundo dos programas, ajuda a combater a solidão. Escolha um canal ou um conjunto de programas calmos, como documentários da natureza ou, lá está, música clássica. Em alternativa, um simples rádio ligado é melhor do que nada.
- Um sinal da sua presença, mesmo ausente: A ansiedade de separação do seu cão será menor se tiver acesso a algo seu, com o seu cheiro — por exemplo uma peça de roupa que tenha usado recentemente.
- Um companheiro: Dois animais distraem-se melhor do que um animal sozinho. Claro que a decisão de adicionar um novo animal à sua família deve ter em conta muitos fatores para além da solidão, mas não deixa de ser uma ideia a ponderar. Fale com o seu veterinário e questione se será uma boa ideia adicionar um novo cão ao que já tem e o que deve procurar no novo companheiro (em termos de tamanho, gênero, energia ou temperamento). A última coisa que queremos é acabar com uma situação de incompatibilidade, má para nós e má para os animais.
Gatos
Os gatos, senhores do seu nariz, mantiveram desde sempre alguma independência e espírito livre — algo que a sua história de domesticação ajuda a explicar.
No entanto, tal não significa que os gatos não necessitem de companhia. Apesar de não serem extrovertidos com os seus sentimentos, os gatos apreciam a nossa companhia e gostam de nos ter por perto.
A diferença entre cães e gatos é que os cães não fazem nada para disfarçar o seu apego, enquanto os gatos fingem ser coincidência estarem na mesma sala que você 97% do tempo.
Tal como os cães, também os gatos podem sofrer de ansiedade de separação com as nossas ausências e manifestá-lo através de problemas de comportamento: necessidades fora da caixa, miados mais agudos, problemas alimentares (umas vezes comer demais, outras deixar de comer), isolarem-se em casa, entre outros.
Dicas para deixar o seu gato tranquilo em casa
- As despedidas e os regressos: Tal como acontece com os cães, a ansiedade de separação no seu gato pode ser reduzida se não fizer da despedida e do regresso um acontecimento. Sobretudo quando sai, não encha o gato de mimos numa despedida prolongada. O carinho deve ser associado a um momento bom e não a um momento de despedida.
- Mantenha as rotinas: Os gatos são animais metódicos e gostam de seguir uma rotina. As refeições devem ser dadas sensivelmente à mesma hora e no mesmo local, assim como a caixa da areia deve estar no mesmo local e limpa, sem acumulação de fezes. Considere também deixar-lhe acesso livre aos seus sítios favoritos; compartimentos de portas fechadas são uma fonte de irritação para os nossos pequenos felinos (oh, se são!). Mantendo as rotinas em casa, o gato sente-se mais seguro e confortável.
- Crie um ambiente estimulante: Os gatos dormem durante a maior parte do dia, mas quando estão acordados — e sobretudo se estiverem sozinhos — necessitam de gastar energia. Deixe alguns brinquedos disponíveis em casa, que façam o seu felino correr e saltar até ficar exausto, satisfeito e por isso, muito mais calmo.
- Passe tempo de qualidade com o seu gato: Mesmo que necessite de estar várias horas diárias fora de casa, quando está presente certifique-se que dispensa tempo de qualidade para se dedicar ao seu gato. Brincar com ele, dar-lhe um pouco de mimo e de colo, deixá-lo estar ao seu lado. Apenas não o faça logo antes de sair ou depois de chegar (reveja o primeiro ponto).
- Esteja atento a alterações de comportamento: Se o seu gato se começa a comportar de forma diferente, como fazer necessidades pela casa, miar ou lamber-se excessivamente, entre outros, considere levar o bichano ao veterinário. Os gatos são muito discretos em relação aos seus sentimentos, pelo que uma alteração de comportamento pode indicar um problema de saúde sério.